Nos artigos anteriores vimos os conceitos de atividade física e exercício físico, além de conhecermos os 10 benefícios da prática de atividade física para a saúde, por outro lado, a inatividade física é configurada como um dos problemas de saúde pública e quanto mais a sociedade avança tecnologicamente aumentam os índices de inatividade populacional.
Ambos os conceitos são usados erroneamente como sinônimos. A popularização do termo “sedentarismo” induz ao pensamento que estar inativo e/ou estar sedentário significam a mesma coisa, porém não é bem assim.
Abaixo entenda a diferença entre inatividade física e comportamento sedentário.
Indivíduo em comportamento sedentário, porém ativo fisicamente. Fonte: Canva.
Inatividade Física
A Organização Mundial da Saúde determina que crianças de 5 a 17 anos devem praticar 60 minutos de atividade física por dia com intensidade moderada para vigorosa e pelo menos 3 dias na semana de aeróbico com intensidade vigorosa. Indivíduos a partir de 18 anos devem praticar aeróbico de intensidade moderada entre 150 e 300 minutos e 75 e 150 minutos de intensidade vigorosa, além de 2 dias na semana de treinamento de força com intensidade moderada a vigorosa englobando os principais grupamentos musculares. Acima de 65 anos é recomendada a prática de atividades que englobem equilíbrio e força com intensidade moderada ou vigorosa pelo menos 3 vezes na semana (WHO, 2020). Portanto, considerando as recomendações das Diretrizes Mundiais, todo e qualquer indivíduo que não as atenda é considerado inativo fisicamente.
A inatividade física se refere a ausência ou prática insuficiente de atividade física. Dessa maneira, mesmo que a maior parte da rotina de um sujeito seja sedentária, ele ainda pode ser ativo fisicamente se atender as recomendações das Guidelines ditadas pela OMS (WHO, 2020).
Indivíduo em comportamento sedentário durante o lazer. Fonte: Canva.
Comportamento Sedentário
O comportamento sedentário é definido como qualquer comportamento de vigília (período acordado) com um gasto energético menor ou igual a 1,5 METs (Equivalente Metabólico da Tarefa, é o consumo energético de determinada ação) em posição sentada, deitada ou reclinada (TREMBLAY et al., 2017). Ou seja, são as atividades ou posições corporais mantidas por longos períodos que gastam pouca energia para sua manutenção, como por exemplo permanecer sentado, deitado ou reclinado assistindo televisão (filmes ou séries), jogando vídeo game, atividades laborais que envolvam pouca demanda muscular como trabalhos no computador, manuseio de maquinário amplamente tecnológico e tudo mais que englobe pouquíssimo movimento corporal.
As Guidelines on Physical Activity and Sedentary Behaviour recomendam que todo comportamento sedentário seja diminuído e a atividade física seja aumentada (WHO, 2020), principalmente durante os momentos de lazer. Manter grandes períodos em comportamento sedentário ou tempo de tela (mensurado pela utilização de aparelhos eletrônicos como TV, computador e tablet, para fins de lazer, trabalho e estudo) podem acarretar danos para a saúde física e mental (PAOLI; MUSUMECI, 2020; SCHUCH et al., 2020).
Leia também o artigo 6 Malefícios da Inatividade Física e Comportamento Sedentário, que conta alguns dos principais danos a saúde de manter uma rotina com pouca atividade física e movimentos corporais.
Dualidade entre Inatividade Física e Comportamento Sedentário
Uma vez que entendemos a diferença dos conceitos, percebendo que inatividade física (IF) e comportamento sedentário (CS) podem ou não estar relacionados, podemos identificar os 4 subtipos de comportamentos que existem:
1 – Fisicamente ativo e não sedentário
Em termos de benefícios para a saúde, estar ativo durante a maior parte do tempo e não manter um CS é a melhor condição entre as 4 citadas. O ideal para a manutenção de um comportamento saudável que priorize a saúde física e mental é adotar as recomendações das Guidelines e implementar um estilo de vida que busque reduzir o CS e aumentar a prática de atividade física durante o lazer, o trabalho, como deslocamento e cotidianamente.
2 – Fisicamente inativo e não sedentário
Nessa categoria, os indivíduos não atingem as recomendações das Guidelines em relação à prática de atividade, mas também não possuem uma rotina com amplo CS. Nesse caso, há a IF, mas não há o CS estabelecido na rotina. Podem ser exemplos, pessoas que exercem atividades laborais exaustivas como garis, serventes de pedreiro, dentre outros, mas que não praticam exercícios físicos.
3 – Fisicamente ativo e sedentário
Aqui não há a IF, mas há o CS. Os indivíduos dessa categoria praticam atividades físicas regulares atingindo as recomendações das Guidelines, mas exercem atividades laborais com alto CS, como é o caso de pessoas que atuam em escritórios como administradores, contadores, estatísticos, dentre outros, porém podem eu não também permanecerem em CS durante o lazer. De qualquer maneira, são sujeitos que se preocupam com a manutenção da saúde e buscam qualidade de vida apesar da rotina de trabalho.
4 – Fisicamente inativo e sedentário
Dentre as 4 categorias, essa é a mais danosa para a saúde. Os indivíduos desse subgrupo exercem a IF e o CS, portanto, mantém longos períodos inativos e em inércia que podem gerar danos severos para a saúde. Essa é a categoria que mais levanta a bandeira para a prevenção urgente, podendo ser preditora de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, diabetes e dislipidemias.
Nessas condições, o ideal é procurar um médico para avaliar as condições de saúde e procurar um profissional de Educação Física para lhe ajudar na prescrição de exercícios que possam reduzir a IF e os danos do CS.
Conclusão
Inatividade física (IF) e comportamento sedentário (CS) têm como premissa o baixo movimento corporal, no entanto não podem ser utilizados como sinônimos.
A IF se refere a não atingir as recomendações de práticas de atividade física prescritas pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2020) e o CS são as atividades ou posições corporais (deitado, sentado e reclinado) mantidas por longos períodos que gastam pouca energia para sua manutenção. Ambos são prejudiciais a saúde e devem ser evitados para se alcançar uma maior qualidade de vida.
Referências Bibliográficas
PAOLI, A.; MUSUMECI, G. Elite athletes and COVID-19 lockdown: Future health concerns for an entire sector. Journal of Functional Morphology and Kinesiology, v. 5, n. 30, p. 1-3, 2020.
SCHUCH, F. et al. Associations of moderate to vigorous physical activity and sedentary behavior with depressive and anxiety symptoms in self-isolating people during the COVID-19 pandemic: A cross-sectional survey in Brazil. Psychiatry Research, Elsevier, v. 292, n. 113339, p. 1-5, 2020.
TREMBLAY, M. S. et al. Sedentary Behavior Research Network (SBRN) - Terminology Consensus Project process and outcome. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 14, n. 1, p. 1-17, 2017.
WHO, World Health Organization. Guidelines on Physical Activity and Sedentary Behaviour. 2020. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240015128.
Por MSc. Natiele Bedim
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